Título original: Daniela e Malu: Uma história de amor
Gênero: Autobiografia
Autor: Daniela Mercury e Malu Verçosa
Ano: 2013
Editora: Leya
Nota Pessoal: 5/5
Citação Favorita:
"Em alguns momentos eu sentia medo de sermos alvos de algum tipo de preconceito, mas foi em Paris a primeira vez que ela tocou meus lábios com os delas em um lugar público no meio de uma rua deserta. Estávamos perdidas, tentando chegar ao hotel, quando ela me parou, me empurrou contra um muro e me deu um beijo daqueles de tirar o ar, de encher o corpo de emoções e que nunca mais sairá da minha memória."
- Malu Verçosa
"Depois de um bom sufoco, assinamos o documento do cartório. Ela brincou, brincou e eu assinei primeiro sem vacilar, pois não poderia perder a chance de pedi-la em casamento de novo e de vê-la, ao assinar esse tal papel, reafirmar seu amor por mim."
- Daniela Mercury
Personagem Favorito: Nesse livro é impossível ter um personagem favorito, pelo menos para mim. Em uma história de amor na qual as duas são apaixonadas e apaixonantes, só poderia escolher as duas.
Crítica:
“Daniela e Malu: Uma história de amor” é mais uma
forma de lutar contra o preconceito, uma maneira encontrada por elas de mostrar
que relações homoafetivas são muito iguais às relações heteroafetivas, além de
trazer para elas a palavra, ao invés de ficarem reféns de uma mídia
sensacionalista. Esse livro certamente está acima de gosto literário, autor, nacionalidade e etc. Pois quando de alguma forma se fala em combater preconceito ou lutar por uma sociedade mais justa, automaticamente se torna um assunto que de tão importante e necessário, não consigo encontrar palavras para expressar.
Os leitores desse livro a princípio são pessoas
armadas contra o preconceito, pois homofóbicos jugam essas histórias de amor
como um erro e blá, blá, blá. E isso infelizmente é muito ruim, pois as pessoas
desnudas de preconceito leem apenas mais uma linda história de amor e em certo
ponto superação. Enquanto os preconceituosos acham um erro, uma abominação da
natureza e não veem o quanto podem ferir uma pessoa. Falo isso, pois venho aos
poucos lutando para tirar de mim essa capa de preconceito que existia.
Não falo apenas de preconceito aos gays, mas aos
negros, evangélicos e alguns outros. Eu nasci em uma família em que esses
preconceitos foram cultivados, mas aos poucos cortados com o passar das
gerações. E mesmo assim resquício desse preconceito me atingiu.
O primeiro corte desses preconceitos mais próximo a mim foi à adoção do meu irmão que é negro (chamo de irmão, mas quem criou ele
foi a minha vó). E esse preconceito foi aos poucos sendo eliminado de mim,
mesmo tendo pessoas na família ainda bem preconceituosas quanto a isso. Anos
depois esse mesmo irmão se assume como gay para a família, e mais um choque nos
atinge. Como eu era muito nova, não entendia muito bem, mas máscaras foram
criadas para esconder o preconceito e esconder a sexualidade dele para os
demais.
Quando eu comecei a entender um pouco mais isso, eu
dizia: “Não tenho nada a ver com isso,
ele está dando o que é dele.” Mas eu estava completamente equivocada. Pois
estava vendo meu irmão, alguns amigos e mais do que isso SERES HUMANOS sofrendo
preconceitos pelo simples fato de não serem igual aos demais, de estar fora do
que a sociedade julga como correto. Diversas vezes escutei a frase “Não basta ser preto, tem que ser viado
também”. E isso passou a me incomodar bastante.
Foto e legenda publicada pela Daniela Mercury em seu instagram. |
Mas voltando ao porque de ler o livro. Em 2013
(quando a Daniela anunciou ao mundo sua ralação com outra mulher) eu trabalhava
e estudava, portanto foi um ano muito corrido para mim, principalmente no
primeiro semestre. Ficar em casa era sinônimo de dormir, e como eu não tenho o
hábito de ler fofoca e raramente conseguia assistir aos telejornais, não estava
muito informada do que estava acontecendo. Mas como eu ainda estava no planeta
Terra, soube da declaração da Daniela através de montagens e comentários
infames no facebook. Mas não dei muita atenção, porque polêmicas assim são
comuns. O que é muito triste, pois ninguém é obrigado a expor sua vida.
Mas agora no início de 2014 fui assistir a um
programa em que a Giovanna Antonelli deu uma entrevista falando de sua nova
personagem, porque gosto do trabalho dela. E nesse programa também estavam
Daniela e Malu divulgando o livro. Eu não era fã da Daniela (só conhecia o
canto da cidade), tão pouco conhecia a Malu. E essa entrevista me despertou uma
curiosidade de saber o que tinha acontecido e como tinha acontecido. Foi então
que me dei conta da repercussão e da importância que foi esse “simples” ato
delas. E através de entrevistas, fui aos poucos admirando-as por seus trabalhos
e causas sociais nas quais elas se envolveram ao longo de suas vidas.
Principalmente Daniela, que sempre usou a voz que tem devido sua fama para
militar e de muitas formas lutar por direitos igualitários. E devido a essa infelicidade de datas meu livro não é autografado, infelizmente isso foi depois da seção de autógrafos no rio (#chorosa). Mas eu como leitora voraz resolvi ler o livro.
O livro é uma autobiografia do relacionamento delas
feita a quatro mãos, onde elas nos contam como se conheceram, como foi perceber
estarem apaixonadas, como e porque elas resolveram publicar o relacionamento no
instaram, os medos e as angustias que sofreram, mas principalmente como suas
vidas são normais. Elas cuidam das filhas, da casa, trabalham e como todos os
casais brigam quando opiniões divergem.
Daniela com sua alma de artista, seus versos e suas
poesias nos mostra seu amor, seus sentimentos e quem é Malu Verçosa de Sá
Mercuri aos olhos dela. Já Malu com sua alma de jornalista e mulher apaixonada
nos mostra uma Daniela até então desconhecida pela mídia. Uma mulher simples, tranquila,
carinhosa, brava e 100% família.
Pelas páginas do livro, navegamos em uma história
de amor que poderia estar sendo narrada por um casal casado a mais de 20 anos, por
tamanha a sintonia e cumplicidade delas. Ou por um casal de adolescentes que
acaba de descobrir e que é o amor e não conseguem se desgrudar. Mas como juntar
essas duas coisas em só um casal é quase impossível, essa história só poderia estar sendo narrada por elas mesmas.
Depois de terminarmos o livro, ou até mesmo antes.
Nos vemos em meio a um triângulo amoroso. Pois com o respeito, a admiração, o
carinho e principalmente com o amor em que uma fala da outra. Faz com que
fiquemos apaixonados pelas duas.
Esse livro certamente serviu para eu terminar de me
despir com a capa do preconceito e começar a vestir uma armadura contra o
mesmo, e tomo para mim as palavras de Lulu Santos ao afirmar em uma de
suas canções “O amor é uma oportunidade.
Não importa cor, credo, sexo ou idade.” Ou até mesmo as palavras de Caetano
Veloso ao afirmar com sua musicalidade “Qualquer
maneira de amor vale amar”. Música essa regravada pela Daniela Mercury e cantada
aos sete ventos para espalhar essa mensagem.
Curiosidades:
Daniela e Malu anunciaram ao mundo que tinham trocado
alianças no dia 03 de abril de 2013 através do instagram da Daniela. E como nesse
mesmo período foi proposta a "cura" gay, essa declaração foi mais que uma simples
declaração de amor, foi também um ato político.
Elas também se casaram no civil no dia 12 de
outubro de 2013 e trocaram seus nomes para Daniela Mercuri de Almeida Verçosa e
Malu Verçosa de Sá Mercuri.
Elas resolveram escrever esse livro, após um convite da editora e acharam que seria legal trazerem para elas mais uma vez a palavra.
Elas resolveram escrever esse livro, após um convite da editora e acharam que seria legal trazerem para elas mais uma vez a palavra.
Com este ato e esta bandeira levantada por elas, Daniela e Malu ganharam (digo as duas porque ninguém assume um relacionamento
sozinha) em 13/11/2013 o prêmio Trip Transformadores e em 26/11/2013 o 2°
prêmio Rio sem Preconceito e atualmente está concorrendo ao prêmio
internacional GLAAD Media Awards na categoria internatinal advocate for change
awarsd, que irá escolher o artista que mais contribuiu para a comunidade LGBT
fora dos EUA.
Para quem já conhecia Daniela Mercury isso não foi
uma novidade, pois como embaixadora da UNICEF no Brasil e militante social, Daniela vem ao
longo de sua carreira lutando pelos direitos humanos e para dar
voz às minorias.
*Sei que a probabilidade de Daniela Mercury e/ou Malu Verçosa terem visto/lido a minha resenha é menor que nula, mas se por algum capricho da natureza isso acontecer. Peço encarecidamente um retorno, e se falei alguma besteira, fiquem (todos) com o dever de me corrigir. Gostaria deixar registrado aqui também o meu desejo para que a Malu Verçosa escreva outros (e muitos) livros, pois fiquei encantada com a sua narrativa.
ATT: Raphaele Targiano
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